A MAGNÉTICA JERICOACOARA
É fato que Jericoacoara já não é mais a vila de pescadores de outrora. Mesmo assim, Jeri ainda tem muito de seu espírito primitivo. Nas ruas de areia fofa, que fazem do chinelo o calçado oficial, carros de turistas não transitam, TV a cabo não é commodity, a internet é lenta como a vida local e não há bancos ou caixas eletrônicos. E tudo cercado por uma beleza inescapável, quase intocada, e muito, muito vento.
A paisagem preservada de Jericoacoara se deve muito ao fato de ter virado Área de Proteção Ambiental (APA) ainda em 1984. Em 2002, tornou-se parque nacional, o que restringe novas construções no entorno da vila. Os moradores fazem sua parte. Foram eles que pediram fiação subterrânea quando a eletricidade chegou, em fins dos anos 1990. São eles também que pedem que o acesso aos 25 quilômetros de areia, sem estrada definida, continue. O governo do Ceará agora investe na construção de um aeroporto em Cruz, a 64 quilômetros.
Uma compensação às dificuldades de acesso são as pousadas locais. Jeri ganhou, em 2010, o hotel Chili Beach (Rua da Matriz, 88/3669-2278, www.chilibeach.com; diárias desde R$ 840; Cc: A, D, M, V), o melhor da vila para o Guia Brasil. Ele tem piscina com borda infinita e vista para o mar da Malhada. Também dorme bem quem fica na Pousada Jeribá (Rua do Ibama, 88/3669 - 2206, www.jeriba.com.br; diárias desde R$ 330; Cc: D, M, V), de frente para o mar, com suas passarelas de madeira e seus jardins caprichados. Na pé-na-areia Casa de Areia (Rua Oceano Atlântico, 88/3669-2160, www.casadeareia.com; diárias desde R$ 250; Cc: M, V), o chão de areia é parte da decoração das salas de estar e de café.
O campo magnético de Jeri também faz com que você se sinta um velho habitué da vila já no segundo dia. Reconhece rostos nas ruas, entende as marés, sabe a que hora sai a torta de banana de dona Angelita. Enquanto o sol brilha no céu, dá para lagartear nas espreguiçadeiras da Praia de Jeri, ao som da MPB que toca nos bares e restaurantes da praia. Se quiser ainda mais tranquilidade, vá até a Malhada. Lá é preciso esticar a canga na areia, e o único som que se ouve é o do vento. Na maré baixa, a Malhada também é caminho para a Pedra Furada, o grande postal de Jeri. O trajeto de no máximo uma hora tem como cenário o visual arrebatador do Morro do Serrote. No caminho, pare para um banho no Buraco da Princesa, um poço de água cristalina com 1,70 metro de profundidade. A Pedra Furada, esculpida pelo mar e pelo vento, também pode ser visitada a cavalo, por cima do Serrote, com a vista de um dos pontos mais altos da região.
Melhores ainda são as lagoas Azul e do Paraíso, destinos de um dos passeios de bugue mais comuns de Jeri. Elas são partes de uma mesma lagoa, dividida nos meses mais secos. A água mantém sempre aquele tom verde-caribe. Lá é só deixar o dia rolar nas redes colocadas dentro d’água e nas mesinhas das barracas que servem futos do mar fescos
Em outro passeio de bugue, desta vez rumo à Tatajuba, a oeste de Jeri, enchi os olhos com a paisagem. As dunas imponentes que engolem tudo, as lagoas que se formam entre elas na época das chuvas, o mangue, os jegues solitários, os carcarás. Seguindo a doce rotina da vila, no fim do dia há sempre o encontro marcado com a Duna do Pôr do Sol. Da vila não são mais que cinco minutos de caminhada. Mesmo que você esteja cansado, indisposto, contrariado, acaba sempre lá em cima. Na descida, uma capoeira animada na praia anuncia que a noite começa. Ao som dos berimbaus, os moradores começam a montar suas barraquinhas.
Esse também é o momento de procurar um lugar para jantar, o que hoje em Jeri se faz muito bem em restaurantes que incrementaram (e como) o peixe e o camarão de cada dia.
Não fosse o forró a coisa democrática e adorável que é, ele também poderia ser encarado como outro esquenta, mais longo, até a abertura da Padaria Santo Antônio (Rua São Francisco), que funciona das 2 às 6 horas – da madrugada. Seus pães com queijo coalho (ou os de banana e coco) são tão tradicionais quanto maravilhosos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comments: